domingo, 4 de maio de 2025

Sobre a falta de promoção e divulgação do campeonato norte-coreano de futebol

Como funciona o campeonato norte-coreano? Por onde posso vê-lo? Como você consegue informações sobre este campeonato? É amador ou profissional? É semelhante ao da ex-União Soviética? Qual é o time mais popular? Estrangeiros podem jogar lá?

Essas são algumas da várias perguntas que já recebi desde quando criei a página "Futebol na Coreia do Norte" há mais de uma década. Porém, não tenho como responder a todas com riqueza de detalhes e a "culpa" não é minha.

O campeonato norte-coreano - a divisão principal, a elite do futebol norte-coreano, melhor dizendo - passou por inúmeras mudanças ao longo de décadas, com modificações nas regras e implementação de diferentes sistemas (mata-mata, pontos corridos, mata-mata e pontos corridos, etc). Vale ressaltar que, sim, é profissinal. Não foi sempre assim e possivelmente tornou-se profissional entre o final da década de 1980 e o início da década de 1990, quando a profissionalização esportiva ganhou força no país.

A seleção norte-coreana que participou na Copa do Mundo de 1966 era amadora, com os atletas tendo mais de um ofício além de jogar futebol pelo clube local (amador), assemelhando-se ao futebol soviético que baseava-se no amadorismo.

As informações que obtenho vêm de sites norte-coreanos como a Agência Central de Notícias da Coreia, Naenara, Rodong Sinmun, Pyongyang Times, Televisão Central da Coreia e Voz da Coreia. O volume e a frequência dessas informações variam com o tempo, refletindo o grau de interesse da mídia estatal em diferentes momentos.

Quanto à presença de estrangeiros na liga, a situação é incerta. Não há confirmação oficial sobre isso. O que posso afirmar com certeza é que jogadores nascidos na China ou no Japão, mas que possuem nacionalidade norte-coreana — por serem filhos ou filhas de norte-coreanos (incluindo aqui o futebol feminino) — podem, sim, jogar.

O time mais popular é o 25 de Abril, que também é o mais vitorioso da liga. No entanto, a questão central que proponho nesta publicação é: “Por onde posso assistir ao campeonato norte-coreano?”

Minha resposta, sincera e objetiva, é: a maneira mais garantida é viajar até a RPDC, comprar o ingresso e assistir in loco.

Até onde sei, não há transmissões de jogos nem mesmo dentro da RPDC. É possível que o canal esportivo, lançado há alguns anos, retransmita a partida gravada após algum tempo — talvez em alguns dias. No entanto, como esse canal não é acessível ao exterior e, segundo as informações que tenho, possui uma grade limitada, com poucas horas de programação no ar e cobertura de outros esportes além do futebol, é muito improvável que realize transmissões ao vivo — algo que já é raro na televisão norte-coreana como um todo.

Há quase uma década, a Televisão Central da Coreia passava alguns jogos do campeonato norte-coreano alguns dias após sua realização, porém, parou completamente de fazê-lo, passando apenas a informar sobre resultados praticamente na mesma medida que as mídias norte-coreanas que se tem acesso no exterior (ACNC, Naenara, Pyongyang Times, etc).

Mesmo quando as equipes norte-coreanas jogaram competições asiáticas, após obter licenciamento da AFC (coisa que já não tem mais, impossibilitando os clubes de participar), a cobertura se limitava a vídeos curtos com gols ou mesmo uma imagem estática com comentários do (a) repórter.

Revistas e jornais locais, como o "Cheyuk Sinmun", dão detalhes adicionais sobre a liga que acabam não sendo transmitidos pelos veículos de comunicação que se tem acesso no exterior.

Mas, por que é assim?

Venho refletindo há anos sobre isso e acredito que hoje tenho uma percepção um pouco mais próxima do que pode ser a resposta para essa questão.

Ao contrário das ligas de vários países do mundo - incluindo as de países socialistas como China e Vietnã - a liga norte-coreana não é concebida em "produto" em nenhum aspecto. 

Nesses países que citei, há difusão sobre a liga principal, torcedores apaixonados por suas equipes e muito comércio envolvido, como compra de camisas, visitas a museus, venda de direito de transmissão, etc. Por outro lado, na RPDC, a noção de "rivalidade" é praticamente inexistente. Embora o futebol seja dito como o esporte mais popular do país e as pessoas tenham suas equipes preferidas, não há um apego "excessivo" por uma equipe, o que é diferente da seleção nacional, que costuma atrair milhares de torcedores animados que tornam os jogos em Pyongyang um desafio para qualquer seleção visitante.

Talvez essa visão sobre "time" e "seleção" esteja relacionada à ideia de "unidade monolítica" da Coreia socialista — uma política estatal que busca unir toda a sociedade sob um mesmo ideal e pensamento, completamente oposta a qualquer tipo de faccionismo ou divisão interna. É possível, apenas possível, que a visão futebolística do exterior, sobretudo a ocidental, não seja compatível com a realidade norte-coreana. Ainda assim, quando se trata da seleção nacional, todos se unem para torcer, integrando aspectos sociais, políticos e esportivos em um único espaço: o estádio.

Sendo assim, talvez a percepção dos órgãos governamentais responsáveis seja a de que não é necessário fazer muito além do que já se faz em relação ao campeonato nacional.

Em algumas publicações de sites como Naenara e Pyongyang Times, é possível encontrar menções a "aficionados" por futebol, que fazem comentários sobre as equipes e até declaram preferência por um determinado time. Essas matérias costumam transmitir a ideia de que os norte-coreanos gostam bastante de futebol — alguns mais, outros um pouco menos — e que, quando podem, acompanham os jogos nos estádios, que geralmente ficam lotados nos fins de semana e feriados. Ainda assim, a impressão que se passa é que o futebol, mesmo com preferências por este ou aquele time, é visto principalmente como um momento de lazer, voltado à apreciação das técnicas e táticas das equipes nacionais.

Como mencionei anteriormente, a Televisão Central da Coreia não transmite mais os jogos do campeonato norte-coreano. No entanto, quando se trata de partidas da seleção nacional realizadas em Pyongyang, essas costumam ser exibidas.

Seria muito interessante se a liga norte-coreana — ao menos a primeira divisão ou, em todo caso, as partidas mais relevantes — fosse transmitida ao vivo de alguma forma, com acesso tanto para o público interno quanto externo à RPDC. No entanto, no cenário atual, é difícil imaginar uma mudança na forma como o país enxerga e administra sua liga nacional.

Quando falo isso, não me refiro a "capitalizar" a competição nacional — em nenhum dos sentidos que essa palavra pode assumir —, mas apenas a oferecer maior visibilidade. Os amantes do futebol, sobretudo os do exterior, que têm pouco acesso ao que acontece nos estádios norte-coreanos, poderiam conhecer melhor as equipes, seus estilos de jogo, táticas e outros aspectos. Seria um verdadeiro intercâmbio futebolístico, como já acontece no restante do mundo, onde é possível acompanhar diversas ligas de diferentes países — algumas com facilidade, por meio da televisão ou de canais no YouTube, outras por meio de sites de streaming.

Como a questão da transmissão ao vivo dentro da RPDC é algo raro, sendo apenas para eventos estatais importantes, é muito difícil imaginar uma transmissão ao vivo de jogos de futebol, muito menos que fosse acessível ao exterior. Pode-se também entrar em questões como a de que a transmissão necessita de satélite e, por questões político-militares, a RDPC pode ter restrições (a Televisão Central da Coreia tem o sinal retransmitido) e, se for por meio de internet, além da questão da cibersegurança ao conectar-se com o mundo, necessitaria de uma boa estrutura de rede e precisaria de um "veículo", como uma plataforma de streaming.

Ademais, dificilmente se faria toda uma reforma na infraestrutura de transmissão, tomariam-se contramedidas para eventuais problemas e ainda se realizaria uma transmissão ao vivo — gratuitamente. O governo norte-coreano, diante de diversas prioridades, dificilmente destinaria recursos apenas para satisfazer o interesse de entusiastas do futebol, que são, em sua maioria, estrangeiros, já que os cidadãos norte-coreanos ao menos têm a possibilidade de assistir aos jogos diretamente nos estádios.

Considerando que o YouTube adota uma política hostil à RPDC — já tendo derrubado diversos canais com conteúdo norte-coreano — e que outras plataformas seguem linha semelhante, qualquer iniciativa nesse sentido precisaria recorrer a meios mais “alternativos”.

Uma proposta de cooperação para viabilizar a transmissão da liga poderia partir do exterior, com financiamento voltado a sustentar esse projeto. No entanto, levando em conta as sanções econômicas impostas ao país, é difícil imaginar esse apoio vindo de países que não sejam China ou Rússia. Mas, nesse caso, estaríamos falando de uma aposta: haveria retorno financeiro suficiente para que o projeto se sustentasse a médio ou longo prazo? Essa é uma questão importante.

Sem dúvida, uma transmissão da liga norte-coreana chamaria a atenção não só de fãs do chamado “futebol alternativo”, mas também de muitos curiosos ao redor do mundo. No entanto, a grande questão é: seria possível manter esse interesse? Seria sustentável ao ponto de justificar todo o esforço envolvido?

Seria um sonho — também para mim — que, um dia, a liga norte-coreana, atualmente chamada de "Primeira Divisão de Futebol da República Popular Democrática da Coreia", pudesse ser transmitida por algum meio. Contudo, no cenário atual, isso ainda parece um objetivo distante.

Por ora, o que me resta é torcer para que, ao menos, a mídia norte-coreana passe a divulgar mais informações, e seguir acompanhando a seleção nacional nas competições internacionais, assim como os clubes norte-coreanos quando participam de torneios asiáticos — espero que, em algum momento, possam voltar a obter a licença para isso.

Espero que essa reflexão possa ajudá-los a compreender a complexibilidade da questão.

*Imagem criada com inteligência artificial com base em duas imagens reais relacionadas com a RPDC

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