sábado, 10 de junho de 2017

Técnicos estrangeiros



Poucos sabem mas antes de Jørn Andersen, já houve um estrangeiro no comando da seleção masculina principal da República Popular Democrática da Coreia.

Foi em 1991, no ano da dissolução da União Soviética e do fim da Guerra Fria que a Associação de Futebol da RPDC decidiu ir atrás de um técnico estrangeiro para levar os chollimas novamente a uma Copa do Mundo já que se completava naquele ano 25 anos da histórica participação norte coreana no mundial.

O escolhido foi o húngaro Pál Csernai que treinava anteriormente o Hertha Belin e havia comandado grandes clubes europeus como Borussia Dormund, Benfica e Bayern de Munique. Após muita conversa com os membros da Associação, o húngaro ainda inseguro acertou contrato de 6 meses com o objetivo de classificar a Coreia Socialista à Copa do Mundo de 1994, sediada nos Estados Unidos.

A decisão norte coreana naquele momento parecia estar muito mais ligada a um confronto politico-ideologico com os estadunidenses e o planejamento era de voltar a surpreender o mundo e mostrar a superioridade dos coreanos e para isso a maneira mais rápida seria a contratação de alguém experiente e o húngaro foi o mais acessível.

Essa noção politica ficou clara quando os Estados Unidos acertou um amistoso com os norte coreanos para algumas semanas após a chegada do húngaro à Pyongyang. Pál fez um pequeno tour pelo país e com ajuda dos assistentes avaliou o melhor elenco selecionando 18 jogadores para viajarem à Washington para aquele que seria um dos jogos mais politicos de todos os tempos que quase ninguém divulga seu acontecimento e resultado final por que não fora uma propaganda positiva ao governo de George H. W. Bush.

Em apenas 3 semanas Pál já era elogiado e exaltado em toda a Coreia, o motivo? A Coreia venceu a partida realizada no dia 19 de outubro no Robert F. Kennedy Memorial Stadium por 2-1.

Os coreanos que tinham base da seleção atletas do April 25, clube do Exército Popular da Coreia, que vinha de quarta colocação no campeonato asiático de clubes da época (Atual Liga dos Campeões da Ásia) enquanto os EUA vinham de vitória na Copa Ouro da CONCAF vencendo o México na final.

A Coreia Popular foi a campo naquela partida com Pak Kyong-Chol, Kim Gwang-Min, Kim Kyong-Il, Tak Yong-Bin, Pang Gwang-Chol, Ryu Song-Kun, Chong Song-Dok, Choi Yong-Son, Cho Yong-Nam, Yun Jong Su e Cho In-Chol.

A Coreia abriu o placar aos 13 graças a Yun, atualmente treinador da seleção sub 17 masculina que era o capitão na época. Os EUA empataram com Bruce Murray aos 25, mas na segunda etapa com 3 minutos Yong Song-Choi em bela jogada individual marcou o gol da vitória. Nas arquibancadas haviam cerca de 16.000 torcedores incluindo coreanos e apoiadores da pátria socialista do Presidente Kim Il Sung. A volta à Pyongyang foi de muita comemoração e os atletas foram recebidos com muito carinho pelo povo assim como o húngaro.

A primeira impresão foi maravilhosa mas havia muito trabalho para o técnico estrangeiro fazer para levar os orientais novamente a uma Copa do Mundo.

Csernai conseguiu levar a equipe à fase final das Eliminatórias, repetindo o feito da campanha dos chollimas nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1990, somando 15 pontos e passando na primeira colocação do grupo C que tinha mais 4 seleções: Catar (2º), Singapura (3º), Indonésia (4º) e Vietnã (5º).

Porém na fase final, onde em um único grupo 6 seleções brigavam por 2 vagas, o estrangeiro obteve campanha ainda inferior à anterior somando apenas 2 pontos (anterior em 1990, 3 pontos) em grupos que tinha Arábia Saudita (1º), Coreia do Sul (2º), Japão (3º), Iraque (4º) e Irã (5º). Assim, após 2 anos sob o comando dos chollimas, Pál Csernai deixa o cargo de treinador da seleção asiática sem conseguir cumprir com sua missão principal mas marcando história com seu estilo de jogo que buscava organizar o setor defensivo e também pelo jogo inesquecível contra o rival politico da RPDC.

Sempre acompanhado de perto por guias e membros da Associação, o húngaro teve pouco contato com o povo norte coreano e saiu com uma visão de que nem ao menos ele tinha "liberdade" naquele misterioso país e foi usado como propaganda de interesse estadunidense.

O sonho norte coreano de voltar a uma Copa do Mundo só iria se realizar em 2010 quando os chollimas eram comandados por um treinador local, como fora em 1966. Contudo, sabendo de suas capacidades internas as campanhas recentes da seleção principal fizeram a Associação repensar sobre contratação de técnico estrangeiro e do aumento do intercâmbio o que trouxe o norueguês Jørn Andersen ao comando da seleção até o atual momento (dezembro de 2016) e com contrato até 2018.


Imagem: Jorn Andersen



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