sexta-feira, 9 de março de 2018

Fatos curiosos sobre o futebol norte coreano



A Coreia do Norte é sempre tratada de uma forma satírica e muitas das vezes demonizada em demasia pela grande mídia mundial e não é incomum receber comentários ofensivos na minha página, mesmo ela abordando futebol e não política como tema.

Não é de se surpreender que análises rasas sobre um país tão complexo sejam apresentadas por pessoas aleatórias em minha página de futebol ou em qualquer outro lugar onde seja citado o nome "Coreia do Norte", o que parece um chamativo para xingamentos e ofensas gratuitas de pessoas que não se dispõem ao debate ou ao menos ao simples entendimento sobre uma conduta civilizada.

Mas eu não pretendo fazer uma postagem sobre essas pessoas, e tampouco criar uma imagem exagerada do que realmente é. Apresentarei apenas alguns fatos desconhecidos sobre o futebol norte coreano e espero que o leitor possa ter um bom entendimento sobre estes e ter sua opinião com bem entender.


Vamos então a alguns acontecimentos do futebol (ou relacionados) norte coreano que poucos sabem.



Ira da torcida em partida contra o Irã




As eliminatórias asiáticas para a Copa do Mundo de 2006 era um momento de grande expectativa dos torcedores norte coreanos sobre sua seleção. Os chollimas por questões políticas não disputaram as eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002 que foi disputada na Coreia do Sul e no Japão e também não havia disputado a edição de 1998 por conta dos problemas internos - A Árdua Marcha- e esperava-se que a equipe pudesse render um bom futebol e se qualificar para a Copa do Mundo após tanto tempo, logo após o seu retorno às eliminatórias.

Mas isso não aconteceu, embora tenha surgido uma esperança de que pudesse. Entrando na segunda fase das eliminatórias, a RPDC tinha no grupo B Emirados Árabes Unidos, Tailândia e Iêmen como adversários e passou em primeiro com 11 pontos - 3 vitórias, 2 empates e 1 derrota.

Mas na terceira fase o desafio era maior - Tinha pela frente Japão, Irã e  Bahrain  no grupo 2.

Em jogo tenso, perdeu de 2-1 para o Japão em  Saitama pela 1ª rodada e conseguiu a proeza de perder para o Bahrain de 2-1 em Pyongyang na segunda rodada, ficando em condição complicada.

Então a partida contra o Irã a ser disputada no Estádio Kim Il Sung em 30 de março de 2005 seria decisiva para a equipe e a torcida fez uma panela de pressão no estádio.

Os norte coreanos apesar de todo o apoio da torcida não conseguiam se sobressair frente à técnica dos iranianos e reclamava-se constantemente de erros da arbitragem do árbitro Mohammed Kousa da Síria, que deixava o jogo correr.

O Irã abriu o placar aos 32 minutos do primeiro tempo com Mahdavikia e ampliaria aos 34 minutos do segundo tempo com Nekounam, aproveitando bobeira da defesa. Então a torcida começou a se enfurecer e relata-se que ofensas ao árbitro sírio eram constantes.

Indo para o "tudo ou nada", um jogador norte coreano foi derrubado perto da área e o juiz mandou seguir e aos 42 minutos, Nam Song Chol perdeu a cabeça, deixando-se levar pela emoção da partida e foi encarar o árbitro após uma marcação de falta, algo muito raro no país, e acabou sendo expulso. Então o clima tenso piorou e os minutos finais foram marcados por violência.


A agitação continuou após o apito final, e os árbitros não conseguiram sair do campo por mais de 20 minutos, quando os objetos foram jogados.

À medida que a violência continuava fora do estádio, a polícia entrou em ação e conseguiu empurrar a multidão para que a equipe iraniana pudesse partir.

"A atmosfera no campo e fora do campo não era uma atmosfera esportiva", disse o treinador do Irã, Branko Ivankovic, para agência de notícias Reuters na época.

"É muito decepcionante quando sente que sua vida não está segura. Meus jogadores tentaram chegar ao ônibus após o jogo, mas não foi possível - foi uma situação muito perigosa".

Depois do ocorrido a Coreia do Norte perdeu o mando de campo do jogo contra o Japão que faria em Pyongyang.

A Agência Central de Notícias da Coreia apenas comentou que a torcida ficou enfurecida com o árbitro sírio.


Guerra em campo contra o Japão



Nas eliminatórias asiáticas para a Copa do Mundo de 2014, a RPDC buscava apresentar um bom desempenho para visitar os gramados brasileiros logo após o fiasco na África do Sul, mas o caminho era difícil.

A equipe entrou já na terceira fase e caiu em grupo junto à Japão, Uzbequistão e Tadjiquistão. Tinha um elenco de respeito, tinha talentos, mas não conseguiu desempenhar em campo tudo o que pudia e acabou ficando na terceira colocação.


Mas o que mais marcou foi a partida com o Japão no Estádio Kim Il Sung, que foi uma verdadeira batalha dentro de campo. Um jogo tenso, com muitas faltas, desentendimentos e que também teve hostilidade da torcida para com os japoneses e cartão vermelho para o promissor meia atacante Jong Il Gwan.

Logo de início, na hora do hino japonês a torcida vaiou do início ao fim.

A Coreia do Norte fez uma partida taticamente boa, fez marcação forte e não se omitiu no ataque e ainda contou com boas defesas de Ri Myong Guk. O volante, Pak Nam Chol, foi o herói com um belo gol de cabeça aos 5 minutos do segundo tempo mas o resto da partida rendeu muitas emoções, sobretudo com a expulsão de Jong aos 32 minutos, que foi muito contestada pela torcida.

Quando ressoou o apito final da partida a torcida vibrou intensamente, como se a equipe houvesse ganhado um campeonato. O clima hostil para os japoneses foi muito comentado na época entre os fãs do futebol no país insular.

A Agência Central de Notícias da Coreia gravou um vídeo especial após esse jogo que você pode conferir no link a seguir: http://bit.ly/2p2Z1l6


Sem vídeo dos gols



Link: http://bit.ly/2p2QWwZ

Este trata-se de um caso mais recente que gera bastante discussão mas antes de abordar vamos esclarecer algumas coisas ...

A RPDC recentemente fundou seu próprio canal esportivo, onde passa jogos completos do campeonato nacional, mas a Central Coreana de Televisão que é o principal canal estatal costuma passar alguns reprises de jogos específicos e melhores momentos de alguns jogos importantes realizados no país no seu tradicional jornal das 20:00.

Entendido isso, podemos explicar a situação... O  Hwaebul havia ganhado do Erchim de 4-0 fora de casa na primeira partida do playoff da AFC Cup na Mongólia, já estava praticamente classificado, e na segunda partida ganhou de 3-0 em Pyongyang, mas uma coisa incomum aconteceu...



Não passaram melhores momentos como sempre fizeram nos jogos da edição de 2017, passando apenas um comentário de um jornalista com fotos do jogo. Isso parecia estranho, mas a razão para isso veio depois... foi informado por uma pessoa presente no estádio que um dos gols foi irregular e mesmo sendo normal uma falha, que não iria mudar em nada a classificação, a TV norte coreana preferiu não mostrar. Ao menos isso é o que se fala.

Após a primeira rodada do grupo I, com o confronto entre 25 de abril e Hwaebul que ocorreu no dia 7 de março no Estádio Primeiro de Maio, também não tivemos melhores momentos exibidos, talvez, apenas para justificar não ter mostrado anteriormente, mas é difícil saber.

Ainda sobre isso é importante dizer que a KCTV não demonstra interesse em transmitir partidas ao vivo para que o mundo todo possa ver e não se sabe quando ou se o canal esportivo ficará disponível algum dia. Por outro lado, os principais estádios tem todas condições para receber estrangeiros que se interessarem em acompanhar a partida como jornalistas esportivos e até mesmo há a possibilidade de transmitir a partida mas a burocracia que existe em torno disso e questões políticas mantém esse isolamento. A AFC também não mostra intenção em melhorar isso. Nem sequer gravar os melhores momentos.

Para encerrar esse artigo especial, apenas gostaria de esclarecer a primeira foto. Trata-se de parte da comissão técnica sul coreana em meio a torcida norte coreana no Estádio Kim Il Sung levantando a bandeira sul coreana na hora que a equipe sul coreana entrava em campo em partida contra a equipe da RPDC pelas eliminatórias para a Copa da Ásia de futebol feminino que teve o grupo B sediado em Pyongyang.

Um comentário: